quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Nome e Sobrenome

Passei alguns dias fora. Mas ao contrário do que possam dizer, eu ñ sumi por conta do carnaval. Infelizmente, onde estou ñ existe carnaval. Ou pelo menos ñ a la Brasil. Além das minhas obrigações diárias, um novo alguém preencheu minha agenda. Um novo alguém entra em minha vida.

Atendendo pelo nome de Dylan Johnson, eis que esse alguém torna-se meu namorado. É, depois de alguns meses curtindo, só quando possível, minha solteirice, tive que mudar meus status de solteira p/ compromissada. Ainda ñ posso dizer que estou com um novo amor. Mas uma nova paixão, com certeza.

E tudo começou desde o meu primeiro dia de aula na Universidade. Após uma reunião entre de boas-vindas com toda a equipe de professores, nos últimos 15 minutos de reunião, Dylan entra de maneira boçal na sala. Apenas um frio "Boa Tarde". Senta-se na cadeira e ouve atentamente o final da reunião. A partir daquele momento estava oficialmente integrada ao quadro de professores. E ele oficialmente apresentado a mim. Ñ de uma maneira agradável, ou mesmo educada, mas decidi relevar aquele dia. Todos os professores me receberam muito bem. Menos ele. Na verdade, ele nem me notou. Então, saí da sala de reunião e fui dar minha primeira aula, ter o meu primeiro contato com a minha turma. Porém, ao sair vi um pequeno fã-clube do Dylan. 4 alunas aguardavam ansiosamente o Dylan. Mas ñ liguei e segui p/ minha classe. Passaram-se três semanas até que ele viesse me cumprimentar pela minha admissão. E tudo o que ele disse foi: "Bem-Vinda a Universidade". Então agradeci.

Em outubro, me deparei com uma situação incomum. Elaborei meu primeiro teste com os alunos. Duas alunas foram as últimas a entregarem as provas. Elas queriam propositalmente ficar a sós comigo. Terminado o tempo do exame, elas me entregaram os testes e me fizeram inúmeras perguntas sobre o professor Dylan. "Ele tem namorada? Qual o email dele? Vc tem o número dele? Onde ele mora?". Ri de tudo aquilo. Mas me bateu a curiosidade. Sim, ele é bonito, ñ pude negar isso, mas a forma fria com que ele me tratava e uma certa arrogância na sua postura faziam com que eu apenas me afastasse ainda mais dele. Nunca conseguia ter mais que um "Bom Dia, Boa tarde ou boa noite". Mas deixei pra lá. Pensei: "Paixões entre professores e alunos. É tão comum".

Até que em novembro, nós, professores, nos organizamos e saímos para jantar. Um grupo de 9 pessoas. Mas antes disso, ele me perguntou: "Vc vai?". Respondi: "É claro. Vc vai?". Ele me disse: "É...Se ñ tiver nada melhor, vou aparecer!". Detestei-o ainda mais! Mais tarde descobri que ele tinha ido se encontrar com uma ex-aluna!

Dia 5 de janeiro retomamos às aulas. Mais uma daquelas reuniões de semestre. Mas dessa vez eu ñ era uma estranha no ninho. Estava mais enturmada e era praticamente da casa. Ele apareceu normalmente, porém dessa vez no horário. Terminada a reunião, fui pra minha turma. Assim que entrei, percebi um clima estranho. Como tenho uma postura diferente com meus alunos, antes de iniciar a aula, tivemos um bate-papo. Conversei sobre a matéria do semestre, sobre as expectativas deles e de como seria meu plano de avaliação. Mas vi que a maioria nem prestava atenção no que eu falava. Então, como sempre faço abri o espaço. Perguntei o que estava acontecendo. Eles riram. Passado a risada, eles me disseram que o Prof. Dylan desenvolveria um seminário nesse semetre. E que, por deicsão do Prof., a professora que ele tinha escolhido pra trabalhar junto seria eu. Estranhei. Tínhamos acabado de sair da reunião e ele ñ mencionou nada.

Naquela mesma semana os alunos, que já estão no terceiro ano, organizaram uma festa p/ arrecadar fundos p/ formatura. Me convidaram. Melhor, insistiram. E fui. E ñ me arrependi. Lá pude, finalmente, conversar com Dylan e nos conhecemos de fato. Nos beijamos e desde então tudo tem valido a pena. Apesar da fama meio galinha (eu tenho um certo ímã pra esse tipode homem!), resolvi aproveitar o que vida me trouxe.

Ele é do Canadá, eu do Brasil. Ele é sério, eu sou brincalhona. Ele é meio boçal (mesmo que nunca admita!), e eu sou mais simples. Decidi apostar no resultado de tanta diferença, mas de muita atração.

Nesse pouco tempo de relação, tenho me sentido feliz, tem me feito muito bem. As alunas estão odiando. Os alunos estão dando a maior força. E com a ajuda desses nossos cupidos, vamos curtindo esse tempo juntos.

E é por isso que fiquei fora por algum tempo, sem poder escrever tanto. A razão tem nome e sobrenome. E pra melhorar, ele tem aprendido algumas palavras em português e já está empolgado p/ conhecer o Brasil. Mas vamos com calma, pra que pressa?!

Bom amigos, é isso. Estou de paixão nova. Agora meu compromisso maior é ser feliz, me fazer feliz. E como diz meu pai: "E que os anjos digam Amém!"

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Tudo passa!

Iria escrever sobre outra coisa hoje, mas sem querer acabei encontrado meu diário, meu quinto diário. A primeira página dele foi inesquecível pra mim. Segue abaixo o que escrevi há alguns anos atrás.

“Hoje eu e o Carlos brigamos. Mais uma briga. Eu detesto quando brigamos, principalmente porque ele estava certo. Acho que hoje atingi meu ápice, foi meu estopim. Carlos me disse muitas coisas, uma delas me deixou marcada até agora. No calor da briga, ele me chamou de Mimada, Rebelde sem causa. Eu ñ queria concordar, mas acho que ele está certo. Eu bebi além da conta. Aliás, quando é que eu ñ bebo de mais ñ é? Eu ñ percebi que tinha passado do limite. Eu nunca percebo.

Ontem nós fomos pra uma fazenda. É de um amigo do meu pai, uma festa incrível. 60 anos dele. Todos os filhos, alguns netos. Muita gente. Ficamos pra dormir, tava tudo indo bem. A festa estava marcada pra noite, mas fomos pela manhã. As crianças aproveitaram, andaram a cavalo pela primeira vez. É um lugar muito bonito, verde por todo o lado, uma cachoeira muito bonita. O dia foi bom. Mas a noite, eu fiz questão de estragar.

O ‘parabéns’ foi bonito. Aliás, seria lindo se tudo ñ fosse falso. A vida dele é falsa. Mas depois eu comecei a beber. Estava bêbada, completamente bêbada. Subi no palco que foi armado, peguei o microfone do vocalista da banda e comecei a cantar. No início, as pessoas levaram como brincadeira. Depois que a música acabou, eu ri. Ri como uma grande louca. Então o aniversariante foi gentilmente me tirar do palco, mas ñ quis. Foi ali que iniciei meu show. Eu estraguei o aniversário dele. Comecei a contar que tudo ali era falso. Lembro do pouco que disse.

Que que é hein? Vc pensa o que? Que ninguém sabe da sua vida dupla? Que vc trai sua mulher com a secretária, com a contadora e com todas as mulheres que cuidam de vc? Pra que esse falso moralismo?

As pessoas me olharam horrorizadas. Eu sei que tudo o que disse todos sabiam. O Carlos subiu no palco, todo envergonhado e me carregou pro quarto. Eu sei que meus pais tb estavam envergonhados. O Carlos me falou hoje: ‘O que vc pensa Paula? Que vc vai consertar o mundo?’. Eu acho que isso é uma das razões que fizeram escolher Direito. Detesto injustiças.

Uma vez eu escutei a D. Amélia dizer ao Carlos: Filho, vc precisa interná-la urgente! Ela é alcoólatra! Eu ñ sou alcoólatra! Mas isso me assusta. Eu ñ vou culpar meu marido se um dia ele chegar comigo e disser: Ñ agüento mais. Quero a separação! Eu no lugar dele, já teria me separado há muito tempo. Eu ñ quero mais ser a ovelha-negra, ñ quero mais ser o motivo de alguma briga. Mas eu ñ posso ser o que ele me pede. Ñ nasci pra ser dona-de-casa, ñ nasci pra ficar em casa e cuidar de filho e marido. Ñ dá, ñ faz parte de mim. Mas por que eu casei? Pra que casei se até pra casar, eu tomei três doses de Whisky antes de ir pro cartório? Eu gosto do Carlos. Ele sempre foi bom comigo, sempre me amou. Ele me ama, e eu apenas gosto dele. Talvez foi por isso que casei. Será que eu vou encontrar um homem que me ama como ele me ama? Então eu casei.

Mas eu preciso mudar. Talvez meu marido esteja certo. Mimada? Pode ser. Tive tudo o que quis. Todos que quis. Até os que ñ quis. Rebelde sem Causa? Ñ sei. Rebelde sempre fui. Nunca gostei de ser enquadrada, seguir regras. Mas eu tenho que mudar. Ñ dá pra continuar assim. E se meus filhos tivessem visto o que eu fiz? E se o Carlos um dia me internar? Ñ consigo ficar longe dos meus filhos. Ñ posso ficar longe dos meus filhos. Se eu ñ mudar por eles, por quem mais eu vou mudar?

Eu sei que ñ sou dependente da bebida. Eu bebo quando quero. O problema é o depois. Sóbria, eu ñ controlo minhas palavras. Bêbada, eu ñ tenho controle de nada.

Eu amo meus filhos. Eu vou mudar, principalmente por eles...”



E pensar que quando eu escrevi isso foi há 5 anos atrás. Essa é a prova de que o mundo dá voltas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Hoje me senti um pouco mais em casa, senti um pouco mais de Brasil perto de mim. Conheci um jovem, de 15 anos, é brasileiro e vive qui há pouco mais de 1 ano. Tivemos uma conversa, talvez agradável pra ele, intrigante pra mim.

Ele estava com uma certa pose, tinha tirado a carteira de motorista e estava satisfeito. Um sorriso com um ar de maioridade no rosto. A partir daquele momento, quando voltei pra casa, minha cabeça ferveu, um turbilhão de pensamentos tomou conta de mim. A primeira pergunta que fiz a ele foi: "Há quanto tempo está aqui?". Ele me disse: "Pouco mais de 1 ano. Acho que 1 ano e 4 meses". Então perguntei: "Quando volta pro Brasil?". Ele sarcasticamente me disse: "Espero que nunca. Sabe como é o Brasil né, uma vergonha." Apenas ri. Educadamente. Mas por trás do meu riso, estava um discurso pronto.

Ali eu vi um jovem vazio, tão abstrato como a fumaça que saía de seu cigarro, mas ele ñ é o único. Aliás, o cigarro que ele fumava era de maconha. Ele me contou muito entusiasmado que defende cegamente a legalização da maconha. Mais uma vez eu ri. Eu disse a ele: "Então, é a isso que vc defende? Vc quer legalizar aquilo que já se fuma no Planalto livremente, aquilo que existe antes mesmo de eu nascer?". Falava como se legalizar a maconha fosse mudar alguma coisa. Depois que falei isso, senti uma certa frustração no seu olhar. Ñ sou a favor, nem contra. Mas será que um papel redigido de maneira formal vai aumentar ou diminuir o consumo e a produção da droga?

O que há de errado com essa juventude? Ele ñ conhecia Janis Joplin, Piaf, Maysa, Getúlio Vargas, João Goulart, Elis Regina, Golpe de 64. Que ñ conhecesse as duas primeiras, eu até entendo, ou até compreensível. Mas e quanto aos outros? Qual a razão pra isso? Sei que o Brasil tem problemas que o torna vergonhoso, mas ele tem uma história, tem um passado. Ñ saber isso é ainda pior que ter vergonha de sua nação.

Mas também me pergunto: Será que é culpa dele? Será que é culpa dele se quando nasceu já encontrou Democracia, República, sociedade livre e estruturada? Ou será que é culpa nossa, que ñ lhes trasmitimos a história, ñ dissemos que até ele ir tranquilamente num cinema, muitos morreram ao sair de um porque o governo achou que tinham estudantes confabulando; que ñ dissemos que Festivais de Músicas foram cancelados porque artistas e intelectuais apoiaram a UNE na época da ditadura; que ñ dissemos que até pra ir tomar um sorvete na esquina, meus pais foram revistados, confundidos por estudantes ou diretórios de esquerda? Ou será que alguém tem culpa? Ou talvez ninguém tenha culpa? Mas por que falar em culpa se estudantes e artistas viveram e morreram justamente pra sermos livres?

Os jovens de hoje ñ tiveram que lutar. Lutar? Lutar pra que? Lutar por quê? Lutar por quem?

Ele ñ sabia que o mundo já foi dividido entre direita e esquerda. Mas será que ele sabe o que foi o Cinema Novo? Teatro Opinião? Se eu perguntasse qual o signifcado de alienado, engajado, revolucionário e reacionário, o que eu ouviria de resposta?

Eu tinha apenas 14 anos, mas escondida dos meus pais, pintei o rosto e fui pedir o impeachment do Collor. Eu tinha 14 e estava participando de uma importante manifestação de democracia. Ele tem 15 e ñ sabe quem foi Juscelino Kubitschek! Eu lembro da minha mãe preparando apostilas e aulas na máquina de datilografar. Ele tem computador com wireless, está num país desenvolvido, mas ñ sabe a qual partido o Presidente do Brasil pertence.

Talvez todos esses detalhes, pra ele, sejam bobos e irrelevantes. Mas se o Brasil é, como ele próprio define, uma vergonha, talvez ele seja a explicação.

Sei que hoje já ñ há nenhuma opressão, nem mesmo um governo que lhe proíbe dizer tudo o que pensa. Mas eu, hoje, inicio uma guerra maior, talvez mais intensa quanto o passado. Uma guerra intelectual. Ñ podemos deixar que personagens como JK, Getúlio Vargas, João Goulart fiquem apenas nas páginas do livro de História. Nem mesmo sejam objetos de estudo somente para provas. Façamos com que a memória desses e de outros heróis permaneçam em outras memórias, que suas ações se perpetuem e que suas realizações façam parte de uma conversa entre jovens, ñ de um lembranças dos meus e de nossos avós.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Somento o dinheiro

A capacidade que as pessoas tem de amar, motivadas apenas pelo dinheiro, me impressiona. O dinheiro pode questionar qualquer sentimento, qualquer gesto. Até que ponto é sincero?

A perda do Carlos foi difícil, principalmente a minha filha. Quando lembro de tudo, da notícia até o enterro, fiz um juramento em silêncio. A partir daquele instante, ñ falaria nem destruiria a imagem do Carlos pros meus filhos. Ñ foi um bom marido, concordo. Aliás, que grande cobrança eu podia fazer se quando me casei, sabia o quanto ele era galinha e que havia uma possibilidade de que ele nunca mudasse? Isso sempre foi muito claro pra mim. Mas quando se está apaixonada, vc tem esperanças que as pessoas mudem e que tudo é para sempre. Ele ñ mudou, me machucou, mas existia uma única coisa inquestionável no caráter dele: Ele amava as crianças! Às vezes de uma maneira meio torta, mas no fundo sempre soube que a única coisa a que ele era fiel era aos filhos. E eu admiro isso. Também nunca fui santa, mas durante meu casamento nunca fui infiel. Mas antes dele sim, fui. Então, no fim dele, ñ havia muito a se falar nem a se cobrar.

Mas o que me agrada em lembrar dele era a sua simplicidade. Vindo de quem vem, poderia ser um homem preconceituoso e arrogante. E é isso que me revolta. Jamais ligou pra dinheiro, classe social, raças ou religiões. Me deixa angustiada ao saber que depois de sua morte, a única coisa que se fala no Brasil é sobre seu dinheiro. Contas, carro, casa, aplicação. Meu Deus, será que quando morremos, a única coisa que se pode deixar é isso? Eu sempre acreditei o contrário. Mas me vejo como a única a pensar diferente.

Ñ tenho pressa em resolver essas questões. Até porque isso ñ se refere a mim. Dinheiro, os bens no nome dele, isso pra mim ñ é importante. Ñ vai trazê-lo p/ que ele possa me ajudar a criar os meninos, nem que seja de longe, nem que seja por telefone. A conta, a aplicação, o carro, nada disso vai diminuir a dor da minha filha. Mas me cahteia ouvir esse tipo de cobrança de pessoas que nunca ligaram pra perguntar: "Como estão os garotos? Estão precisando de alguma coisa? Está tudo bem com eles?". Perguntas básicas, que até os ñ íntimos fazem, mas quem é de sangue, ñ faz. Infelizmente, isso existe, isso é fato.

Tenho feito o possível e o impossível pra driblar o estresse, para afastar o mal-humor e fingir que está tudo bem na frente dos meus filhos. Mas ñ está. Ñ quero que cresçam revoltados com a família paterna (que ñ são todos. há boas pessoas tb e a essas eu agradeço o carinho e o repeito!) ou que eu seja acusada de difamar a imagem de ninguém. Mas o tempo mostra a razão, mostra a verdade. Deixo claro que ñ vou brigar por dinheiro nenhum, nem iniciar qualquer processo em relação a isso. Mas também ñ tenho medo de enfrentar nenhum.

O quer que seja do Carlos, será dos meus filhos. Somente eles poderão decidir o que fazer. E como fazer. Mas quero que eles tenham outras lembranças do pai. Somente as boas lembranças. E lembranças fraternas, carinhosas, ñ materiais. O que eles precisam ñ é do dinheiro, é do carinho, é de amor! Isso eles têm de sobra de mim, dos avós maternos, da tia, dos primos, mas nunca é demais. E acredito que questinando bens materiais ñ é a melhor forma de fazer parte da vida deles.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pais e filhas.

Ultimamente tenho escrito mais. Graças à Deus, consegui organizar minha agenda, meus horários e dividir minha atenção entre a Universidade, meus filhos e eu mesma. Hoje, tive uma forte lembrança e inspiração para escrever. Ñ sei se foi a saudade ou uma constatação, mas me senti forçada a escrever sobre as relações entre pais e filhas.

Hoje, logo após o almoço, as crianças foram brincar no jardim. Aimée se juntou aos dois. Lembrando que Aimée é nossa querida vizinha francesa, grande colega dos meus filhos. Eles estavam brincando, conversando e rindo. De repente, Aimée veio até Marie, sua mãe, e disse: "Mãe, amanhã vc liga pro papai?". Marie se assustou com o pedido inusitado, sem um motivo especial. Marie simplesmente respondeu: "Sim amor, posso ligar. Mas qual a razão dessa vontade repentina?". A resposta da Aimée foi simples: "Nada. Só vontade de falar com ele". Eu apenas olhei para Marie e ela me disse: "É saudade. É filha, é mulher". De fato, é filha e mulher.

Geralmente, quando as mulheres estão grávidas de primeira viagem, quase todos os pais preferem que venha um garoto. Porém, filhos homens acabam sendo mais cúmplices de suas mães do que dos pais. Claro que a amizade e companheirismo entre pais e filhos existe, ñ disse o contrário. Mas as filhas acabam tendo um amor, um ciúme maior dos pais do que das mães. Digo isso com experiência na causa.

Amo minha mãe, a tenho como uma inspiração, busco ser a mãe que ela foi para mim, mas minha relação com meu pai é maravilhosa. Todos os momentos mais importantes da minha vida meu pai foi o primeiro a saber. Se tivesse que chorar, chorava sempre no ombro dele primeiro. Uma vez minha mãe contou que ao engravidar pela segunda vez, meu pai disse: "Será que dessa vez vem meu garotinho?". Minha mãe só lhe respondeu uma coisa: "Querido, se vier um menino, quem ganha sou eu. Homens sempre choram e riem primeiro com as mães. Vc sabe muito bem disso". Meses depois, ao saber que tinha ganhado mais uma menina, meu pai chorava tanto e mais tarde agradeceu a minha mãe, dizendo as seguintes palavras: "Obrigada por me dar mais uma companheira".

Minha mãe, quando decidiu ficar no Brasil e casar com meu pai, ela lembra que ligou de um orelhão e disse: "Pai, ñ voltarei mais para a Inglaterra. Vou casar aqui no Brasil. Eu te amo!". Meu avô apenas disse: "Suspeitei disso pela sua demora em voltar pra cá filha. Filhinha, fica bem viu. Quanto ao casamento, só casa quando eu estiver aí. Seja onde estiver, vc nunca entrará sozinha na igreja. Eu sou seu pai!". Assim ocorreu nas vezes que estava grávida. Meu avô foi o primeiro a saber.

Um vizinho nosso, do Morumbi, costumava levar os filhos para os jogos de futebol. Meu pai ia com eles. Uma vez, esse vizinho disse: "Poxa Otávio, pena que vc ñ tem um garoto pra ir com a gente." Meu pai apenas disse: "Cara, ñ me faz a menor falta!". Meu pai se achava um máximo quando íamos em alguma praça ou parque. Ele nos segurava pelas mãos com o maior orgulho, ficava ainda mais prosa quando alguém vinha nos elogiar.

E tal qual minha mãe tinha essa relação com meu avô, eu tb tenho essa cumplicidade com o meu pai. Apesar da minha primeira palavra ter sido "mamã", quando precisava de socorro a única palavra que saía de minha boca era "Pai". Lembro-me da conversa que tivemos na véspera do meu casamento. Tinha 22 anos. Eu estava no quarto ouvindo música quando meu pai entrou. Ele disse: "Filha, amanhã vc casa. Casamento é um passo muito grande, muito sério. Vc vai dividir sua vida com essa pessoa, possivelmente construir uma família com ele, ter filhos. Ñ é brincar de casinha. Pensa com mais calma filha." Eu falei: "Mas pai, eu tô apaixonada pelo Carlos!". Ele sabiamente respondeu: "Filha, eu ñ tô nem sou apaixonado pela sua mãe. Filha, eu AMO sua mãe. Amo a tpm, o riso, os 1001 olhares, o choro, a vaidade e até a ansiedade dela eu amo. E amo mais ainda pela famílai que nós construimos, os obstáculos que ela passou junto comigo, a coragem que ela teve de enfrentar tudo do meu lado. Isso tudo filha é amor, ñ paixão. Vc está se casando por paixão. Eu quero que vc case, mas case por amor." Depois dessas palavras, eu nada disse. Apenas o abracei. Talvez se eu tivesse seguido seus conselhos, minha vida teria sido diferente.

Uma das coisas que eu lembro com carinho do Carlos é isso. Logo quando engravidei, eu queria muito que fosse menino. E achava que ele tb gostaria se fosse menino. Mas ele me falou: "Amor, eu quero muito uma menina. Menina é sempre mais pai!". No meu baú de emoções está guardado a cara dele de felicidade quando o médico carregou a minha filha e disse: "Aqui está o primeiro gêmeo. É a menina!". Ele chorou tanto que soluçava. Aquela era a primeira de muitas cenas que me emocionaram dos momentos paternais do Carlos. Ele carregando, conversando, fazendo dormir, acalmando a Maria. Isso tudo eu guardo, afinal dizem que só devemos lembrar das coisas boas mesmo.

Me dói quando percebo que minha filha ñ terá mais esse contato com o pai. Tento suprir, mas há feridas que ñ cicatrizam. Meu coração sangra quando ela, antes de dormir, me pergunta: "Mãe, cadê aquela blusa do papai? Mãe, posso dormir com a foto do papai?". Principalmente quando a encontro pelos cantos chorando, rezando pelo pai. Ontem mesmo ñ aguentei. Chorei junto dela quando a encontrei embaixo da janela da sala, soluçando de tanto choro, entre as fotos do pai e uma blusa que ela nunca me deixou lavar. Essa blusa ele usou no aeroporto, quando viemos pros EUA e ela disse: "Papai, me dá essa blusa que vc tá usando?!". Ele muito assustado perguntou: "Mas filha, por que vc quer essa blusa?". Ela apenas respondeu: "Ah pai, pra eu sentir teu cheiro até vc ir ver a gente." Ele emocionado deu a blusa. A cena da minha filha ali, perdida nos choros e lembranças mexeu comigo. Ela me abraçou muito forte. Eu quase ñ entendia o que ela dizia, compreendi algumas palavras. "Ai mãe...Mãe...meu pai...papai...Ai mãe, eu quero tanto meu pai".

Pra mim, esse é um dos mistérios da vida. Esse laço forte entre pais e filhas é inexplicável. Faz parte de um dos segredos de Deus em nossas vidas. Eu ainda ñ imagino a minha vida sem o meu, apesar de saber que um dia ñ o terei mais por perto. Eu só espero que esse momento demore um pouco mais.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Primos e Primos.

Há inúmeras histórias envolvendo primos. Quase uma regra, nas livrarias ñ faltam opções de livros envolvendo algum enredo sobre primos. E são de muitas categorias: romance, drama, auto-ajuda e até comédia. Cada um tem um personagem diferente, mas a trama é sempre a mesma. Há sempre um casal de primos apaixonados, amores que começaram desde pequenos, outros iniciaram na adolescência, outros já vivenciaram somente na fase adulta. É o tipo de romance que acontece em todas as idades, em todas as classes, com pessoas de todas as cores. É quase um amor universal. Quase todos já passaram por uma situação parecida. Ou como se diz: se ainda ñ passou, um dia vai passar.

E como qualquer pessoa normal, eu também já passei por isso. E também jamais esqueci. Afinal, nunca esquecemos a ansiedade do primeiro beijo. Era uma festa, tinha uns 13 anos. Era aniversário da minha tia Alice, p/ os íntimos, tia Ally. Naquele ano, toda a família de mamãe estava hospedada em casa, que virou uma grande pensão. 22 de dezembro. A família em peso ali. Tinha gente nos quartos, biblioteca, piscina, jardim, em todos os cantos. A família é inglesa, mas fizemos a la Brasil, com um grande churrasco, que como já é de se esperar, sempre entra pela noite. Pois bem, assim foi. E eu estava muito ansiosa com tudo aquilo, especialmente pela presença do meu querido primo, James, ali, hospedado em casa, apenas alguns metros do meu quarto. Toda a noite, todo o dia, todas as horas perto de mim. Apesar de ser muito moleca, a partir daquele momento percebi que uma parte do meu jeito de criança já tinha ido. Mas ñ esperava que naquela noite fosse inesquecível.

Enquanto minha irmã se derretia contando para as primas o primeiro beijo, o primeiro namorado de portão, eu brincava lá fora. Aliás, ñ brincava, passava o tempo nervosa, disfarçando os olhares que eu e James trocávamos. Fazia de tudo para esconder o que sentia do meu pai, principalmente de minha mãe. Mas ñ resisti. Depois que todos estavam meio bêbados, as meninas no quarto e os outros primos estavam jogando bola na rua, eu fui sentar debaixo da árvore, passando um pouco a piscina. Já era umas 18:00, o sol estava indo embora. Fechei meus olhos e fiquei pensando. Só abri quando senti a mão de James segurando a minha. Levei um enorme susto. Me arrepiei toda quando ele me disse no ouvido: "Vc está fazendo o que aqui sozinha?". Respondi quase sem voz: "Nada, só passando o tempo. E vc? Por que ñ está jogando bola?". A resposta dele foi mágica: "Porque eu vim fazer isso!". Nos beijamos. Um beijo intenso, nervoso, com medo e vontade. E o melhor de tudo: um beijo roubado. Um dos mais intensos da minha vida.

Depois disso, jamais o esqueci. E fatalmente quando nos encontramos, sempre nos lembramos disso. Algumas vezes comentamos, outras ñ falamos, mas os olhares sempre são os mesmos. Uma vez criei coragem e perguntei, ainda casada: "Sabe por que eu ñ esqueço aquele beijo?". Ele, num jeito arrogante que sempre detestei, mas sempre me atraiu, respondeu: "Sei. Porque, além de ter sido irresistível, amor de primo NUNCA acaba. E quando ñ se vive esse amor, sempre fica mal resolvido." Duvidei disso por muito tempo. Hoje, ñ duvido, mas ñ tenho certeza.

Me pergunto até hoje se o que sinto é realmente amor. Se o famoso amor de primo existe, se no meu caso ñ é apenas a lembrança do primeiro beijo, da primeira paixão, se tudo ñ passa de uma vontade ou se ainda há um sentimento ñ vivido ou ñ resolvido. Sei que alguns devem estar se perguntando: Cadê o tal primo? Eu tb me pergunto: Cadê?! A última vez que nos vimos foi há uns 3 anos atrás. Ainda estava casada, mas fiquei feliz em vê-lo de novo. Estava muito bem, lindo como sempre, mas meio arrogante tb! Longe de todos, nos abraçamos e ele só me disse algumas poucas e inesquecíveis palavras: "Quando vc puder, me liga. Ñ te esqueci, e sei que a recíproca é verdadeira. Um dia, a gente se resolve." Será que é verdade? O que há de tão intenso, de tão mágico numa relação entre primos? Parece que há um ímã entre primos, algo inexplicável. Mas o que acontecerá comigo? Aí só Deus pra responder né! O que tiver que acontecer, acontecerá!