sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Paz...

Poeira baixada. Rotina reestabelecida. Agora, parece que minha vida finalmente começa a entrar num período de calmaria, um momento de tranquilidade. Depois de brigas, separação, perdas, consegui encontrar aquilo que mais procurava nos últimos meses.
Apesar dos pesares, de tantas mudanças, consegui me reestabelecer, voltar a sonhar, a viver. Nos últimos meses, diferentes tipos de preocupações me atormentavam a noite. Nem mesmo em sonhos conseguia relaxar. A maioria dos meus pensamentos eram direcionados aos meus filhos, como até hoje são. 2007 e 2008 foram anos marcantes para nós, principalmente para eles, sei que jamais esquecerão. Porém, todo o tempo que chorei, me preocupei, me desesperei, lembrei da minha família, minha base. Eles sempre ao meu lado, me dizendo: "Depois da tempestade, vem a calmaria". E eu me perguntava: "Onde está essa calmaria? Parece tão distante de mim!".
Foi-se o tempo em que as pessoas diziam "família é tudo igual, só muda de endereço!". Hoje, há famílias e famílias. Eu agradeço a Deus todos os dias pela família que tenho. Meus pais, nossa, meus pais, meus ídolos. Os admiro tanto, os amo tanto que nem saberia medir o quanto. Sempre do meu lado, me apoiando, me ensinando. Lembro vagamente da época que nossa situação financeira ñ era das melhores, mas ainda sim eles nos cercavam de afeto, de amor. Mesmo com o bolso apertado, jamais os vi brigando, mas sempre nos dizendo: "Amamos vcs!".
Minha irmã foi outra pessoa fundamental na minha vida. Sei que ñ importa o que me aconteça, ela estará sempre comigo, e vice-versa. Somos tão diferentes, muitos até nos perguntavam se realmente éramos irmãs. E o que respondia essas dúvidas era nossa cumplicidade. É algo tão forte que até me impressiono.
Mas o que me dá força mesmo, a minha vitamina essencial de vida são meus filhos. É engraçado, nós mães sempre achamos que nossos filhos dependem de nós. Mas é exatamente o contrário. A partir do momento em que nascem, é praticamente impossível imaginarmos nossas vidas sem eles. Eu pelo menos ñ consigo. Sabemos que um dia, eles crescem, voam, precisam cuidar de suas vidas, mas enquanto esse tempo ñ chega, é bom curtí-los.
E hoje, quando acordo, vejo que minha casa ainda ñ está do jeito que quero, mas acordo muito feliz. Hoje, ñ busco grandes paixões, grandes amores, grandes riquezas. Na verdade, ñ busco nada. Quando acordo, rezo, agradeço por ter encontrado algo muito importante: paz. Se felicidade plena é estar em paz, então considereme a pessoa mais feliz do mundo!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Retomar a vida...

Jamais imaginei que meus filhos, aos 6 anos de idade, teriam que aprender a superar uma morte. Ñ qualquer morte, ñ qualquer perda, mas a despedida do pai. Ainda ñ passei por isso, ainda tenho meu pai vivo, do meu lado. Talvez por conta disso, seja tão difícil saber exatamente o que meus filhos estão passando, o quão doloroso é esse momento. Eu olho, observo, imagino, mas ñ sei qual é a sensação.
A reação deles ñ podia ser diferente daquilo que imaginei. Cada um a sua maneira, tenta seguir em frente, tentam esquecer, tentam ñ sentir que o pai ñ estará presente em momentos importantes que ainda estão por vir. A forma como eles vem enfrentando a situação é admirável p/ muitos, mas é preocupante p/ mim. Eu ñ sei até que ponto vai a força entre eles, até que ponto eles vão suportar e ñ desabar mesmo, colocar pra fora tudo o que pensam. Isso me consome, me martiriza.
A Nanda, sempre a "princesinha do pai", a mais agarrada com ele. Eles tinham uma relação invejável, uma conexão de olhar que só reconheço quando olho pro meu pai. Pode ser que o velho ditado que filhas sempre são mais apegadas aos pais e os filhos, com as mães justifique essa relação. Nunca acreditei muito nisso porque em casa, éramos só mulheres (eu, minha irmã, minha mãe e meu pai). Eu era mais agarrada mesmo com meu pai, tanto nos momentos bons e ruins, mas nada do que me aconteceu minha mãe ficou de fora, mas o primeiro a saber sempre era meu pai. O mesmo acontecia ente minha irmã e minha mãe. E a relação que tenho até hoje com meu velho via se repetir entre minha filha e o pai. Por ser tão parecida comigo, ter o mesmo gênio, ela sempre procurou mais o pai, ele era o calmante dela. E agora, passando por isso, vejo o quanto tem sido mais dolorido para ela. Mais do que nunca, ela dorme com a blusa do pai, a foto dele ao lado e provavelmente, tem sonhado com ele nas últimas noites. Chora, chama, busca, às vezes até acredita que tudo ñ passa de um pesadelo, mas no fim, a única palavra que sai da boca é PAI.
Já o João foi surpreendente. Desde o momento em que recebeu a notícia até chegar ao Brasil ñ pronunciou uma palavra, só via lágrimas cairem pelo rosto. Tão parecido com o pai, num momento como esse, reagiu da mesma maneira que o pai alguns anos atrás, quando o Carlos perdeu um primo muito próximo. As emoções travadas, o choro engatado na garganta, como uma concha fechada. O silêncio é a marca registrada deles. Meu filho tem raiva, reagiu mal a tudo isso. Ainda acha que a culpa é do pai, mesmo eu tendo explicado por várias vezes o contrário. No fundo, acho que ele entendeu e acredito que esta raiva ñ é exatamente do pai, mas pela situação, pela perda, na necessidade de procurar culapdos.
No velório, muito choro, muitas emoções. Preferi ñ deixá-los por muito tempo ali, ñ achei um ambiente muito apropriado, mesmo sendo o corpo do pai deles. Normalmente, quando se vai ao velório de um jovem vc nunca sabe o que dizer aos familiares, principalmente aos pais e irmãos, pessoas mais próximas. Então, o que dizer aos filhos pequenos? "Meus pêsames"? "Meus sentimentos"? Às vezes é melhor ñ dizer nada. Um olhar ou um abraço é suficiente. Sei que fui criticada por ter tirado-os dali, mas ñ acho que meus filhos estavam preparados para fezerem cerimônia e ficar parados, recebendo cumprimentos daqueles que vieram dizer o último adeus. Respeito os meus filhos, principalmente essa dor. Procuro-os p/ conversar, quem sabe ouvi-los desabafarem, mas também respeito o momento em que preferem ficar só.
Sei que o velório foi só uma das muitas situações em que terei de agir em favor deles, já que agora, sou a única responsável por eles. Sei também que haverá outras situações em que terei de respeitar o lugar que seria do pai, nem eu ou qualquer outra pessoa poderá subtituir. Formaturas, bailes, sonhos, conversas, saudade. Em todos esses, terei que me adequar somente ao meu papel, ao meu espaço. Se um dia minha filha casar em igreja, a entrada com o pai ñ será mais possível, mas seu lugar será respeitado. Só rezo e peço que o tempo cuide dessa ferida no coração dos meus filhos.

domingo, 5 de outubro de 2008

Querido pai, querido amigo Carlos.

Ai Carlos, a despedida final foi tão marcante, tão doída...Dizer adeus, te ver pela última vez foi sacrificante...
Carlos, vc ñ foi lá um exemplo de marido, mas como pai ganhei na loteria, melhor, nossas crianças. Em todos os aspectos, talvez o de pai vc tenha sido o melhor. Lembro quando terminamos nosso casamento, procurávamos razões para explicar o fim da união, mas vc sabiamente falou: "Talvez somos tão bons como amigos, que como marido e mulher, fracassamos". Na época, achei aquilo uma extrema bobagem. Hoje, concordo contigo. Fomos muito próximos, muito amigos, muito irmãos durante muitos anos. Fomos ótimos em todos os ângulos de relacionamento possíveis, exceto em um: matrimônio. Mas, mesmo ñ tendo funcionado como marido e mulher, serei eternamente grata pelas jóias que vc me deixou. Duas preciosidades, dois tesouros que nos alegraram desde o momento em que chegaram ao mundo: João Vitor e Maria Fernanda.
Enquanto todos nos demos as mãos e rezamos por vc, eu pensei, lembrei de tudo que conversamos, rimos, imaginamos, planejamos sobre o João e a Nanda. Lembrei do quanto vc, na maioria das vezes, se irritava facilmente com o João e vc sempre dizia: "O João é tão parecido comigo, que nossos santos ñ se acertam!". E era verdade. O João é tão parecido contigo, o jeito que se zanga, o jeito que dorme, o jeito protetor, bem teu estilo machão, que adora cuidar de tudo. Definitivamente Carlos, eu nunca te falei, mas eu sempre te admirei demais como pai. Talvez isso seja uma das coisas que eu tenha de carregar pro resto da vida. Até quando estava grávida, vc foi diferente. Enquanto a maioria dos pais adoram escolher o nome dos meninos, quando soubemos que ganharíamos um casal de gêmeos, vc prontamente optou por escolher o nome da menina, e eu o do menino. Nem imaginávamos, mas desde aí Deus já nos dava um sinal de como seriam as relações em casa. Vc e Nanda grudados, em sintonia o tempo todo. Apreciava essa relação pai e filha, tão cúmplices. Toda vez que vc lia pra ela no sofá à noite, mesmo muito cansado, fazia a fala dos personagens com entonação e ela te olhava tão orgulhosa, talvez ela nem estivesse prestando atenção na história. E eu ficava no cantinho, olhando, admirando aquilo, ao mesmo tempo, agradecendo à Deus por vc ser o pai que era. Sempre sonhei que minha filha tivesse o pai que tive. E vc foi.
Ah Carlos, sei que botamos um ponto final no nosso casamento porque realmente ñ tinha mais jeito. Mas como vou comentar com um estranho o quanto vc era bom com a Nanda, ou como o João escreve do mesmo jeito que vc? Serão coisas que ficarão no meu peito, na minha mente. Fico imaginando quando a puberdade chegar e nossos filhos passarem por transformações, momentos em que sua presença ficará marcada por um buraco, uma panela sem tampa. Como conversar com o João sobre primeira noite de um homem ou como fazer a barba? Nos 15 anos, quem dançará com a Nanda em teu lugar? Está sendo difícil para elas, e sei que de alguma forma, é difícil pra vc tb.
Ñ importa quantos anos se passem, sei que as crianças sempre guardarão seu espaço no coraçãozinho delas. Tb ñ importa quantos homens mais eu conheça, nossa história jamais será esquecida. Sempre haverá a prova, o resultado de tudo o que vivemos, João e Maria.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A Partida...

Talvez hoje seja o dia mais difícil de toda minha vida. Nunca pensei em passar por isso...
O dia parecia ter começado bem, parecia ser normal. Acordei cedo, preparei o café das crianças, separei uma roupa mais fria, porque apesar do céu bonito, podia piorar. Acordei meus pequenos, meus amados pequenos...acordaram tão alegres, tão dispostos, falantes como sempre...Tomamos café juntos e saímos pra correria de todo dia. Quando retornei em casa, rápido, para pegar uma pasta, o telefone toca....Talvez fosse melhor ñ ter atendido...Mas ñ mudaria a realidade...

Como contar aos seus filhos que o pai morreu? Ñ existe livro pra isso. Ñ se espera isso. Meus filhos...tão pequenos, mas com tanta experiência...
Com a notícia, um filme passa pela cabeça. A lembrança mais bonita que guardarei é dos momentos em que estávamos casados e, por algum motivo ou mesmo força do hábito, eu dizia "meus filhos...". E o Carlos sempre retrucava: "São nossos filhos....Vc ñ fez sozinha!". E era verdade...Mas agora, são tão meus....Estamos só aqui nos EUA, mas de alguma forma, o pai era presente, sabia que poderia contar com ele, em algum momento, mas agora onde ele está? Como saberei se estou indo pelo caminho certo, como saberei o que ele tb pensa, as opiniões, os pensamentos dele?

Por enquanto, junto minhas forças pelos meus filhos. Ainda ñ desabei. Como diz no Brasil parece que a ficha ñ caiu, mas sei que isso ñ durará muito, sei que quando meus filhos chegarem, a realidade me toque, me acorde....