domingo, 27 de dezembro de 2009

Sean Goldman

Alguns alunos me mandaram emails perguntando qual era a minha opinião sobre o caso Sean Goldman. Eles fizeram isso porque sabem que normalmente eu exponho minhas opiniões sobre certos casos. Mas, neste caso, ñ tenho que falar.

O que eu direi a respeito é o que digo nas aulas: "Cada caso é um caso". Eu realmente ñ acompanhei o caso, ñ conheço detalhes nem tive a oportunidade de ler o processo. Sei que ele vem se arrastando por 5 anos (isso é uma prova de como a nossa Justiça enfrenta alguns problemas), porém eu ñ tenho informações suficientes para expor minha opinião. Melhor, eu nem tenho opinião formada a respeito.

O curioso é que saiu naquele programa da Record (uma espécie de Fantástico, eu ñ recordo o nome) que a família materna ñ pretende recorrer a decisão do ministro Gilmar Mendes. Gente, nem pode! O processo chegou na última instância, chegou no órgão Supremo e se o Supremo decidiu, a ordem tem que ser cumprida. O que pode ser feito é: abrir um novo processo para garantir o direito de visita ao menino.

Se o STF assim quis, que assim seja feito. E que Deus abençoe o garoto e conforte a família. Mas eu gostaria de ter acesso ou estudar realmente porque costumo levar os casos famosos, casos que mexeram com a sociedade brasileira para as minhas aulas, para estudarmos e analisarmos as situações. No fim desse semestre fizemos um seminário sobre o caso Suzanne von Richthofen. Foi muito interessante e valeu a pena.

No mais, fica a lição para a Justiça Brasileira em acelerar um pouco mais os processos. Um caso desses, que já vinha durando 5 anos e só fez aumentar o sofrimento para ambos os lados, poderia ter sido resolvido antes. Que o MJ faça mais concursos para as defensorias públicas (e aproveite para regularizar o piso salarial. É um absurdo a diferença de salários entre as regiões!) e faça uso do quinto constitucional, aumentando o número de juízes.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Então foi Natal.

Passamos por mais um Natal. Cheguei aqui pelo Brasil dia 22 depois de algumas horas de atraso do vôo. E mais uma ponte aérea nos aguardava. Para fugir um pouco de casa (no meu caso ainda mais, depois de um tanto tempo longe desse país maravilhoso), minha mãe teve a ideia de irmos conhecer Natal, RN. O lugar é encantador, praias maravilhosas, uma culinária atraente e acessível, um paraíso no cantinho superior do Brasil!

Assim que chegamos no hotel, eu e meus pimpolhinhos desmaiamos na cama! Estávamos tão cansados que dormimos mais de 9 hrs! No dia seguinte nos juntamos a família e curtimos cada minuto desse lugar. A ceia foi um tanto diferente. Fomos ao supermercado e pedimos para usar a cozinha do hotel. Melhor, pedimos ñ. Paula e cozinha nunca é uma boa combinação. Minha mãe, D. Marta (sogra da minha irmã) e Edu (meu cunhadinho) assumiram a parte culinária. Eu, Dani e as crianças fomos cuidar dos presentes e do resto.

Sentimos falta do papai, claro. Essas datas ainda tem muito a cara dele. Por termos passado longe de casa, longe de SP ñ sentimos tanto (ou soubemos disfarçar melhor). Provavelmente nos próximos anos a ficha cairá. A árvore montada, os enfeites que mamãe espalhava pela casa, papai fazia um peru que só ele sabia fazer. As músicas, a animação, casa cheia, a agitação, tudo aquilo tão comum para nós parece que perdeu seu gosto, perdeu a graça, como dizem. Optamos por algo mais tranquilo. Engraçado que meu pai, nos últimos anos, dizia: "No próximo ano, iremos viajar. Nada de festa". Mas ele nunca cumpria porque os amigos, vizinhos e a família começava a se organizar desde novembro e ele nunca tinha coragem de negar...

A nossa casa ficou fechada, sem enfeites, sem música, sem resquícios natalinos. Nem mesmo a guirlanda da porta foi colocada. Ficou escura e vazia.

Antes da meia-noite começamos a trocar presentes. E antes que me perguntem pela tal historinha do papai noel eu respondo: preferimos acabar com isso. Gabi, João e Maria foram os únicos que, por um tempinho, acreditaram no papai noel. Isso porque viam nas lojas e shoppings os bons velhinhos desfilando. Mas em casa isso ñ era cultivado Minha mãe dizia que ñ era saudável e papai dizia que "isso era criação do capitalismo para que o verdadeiro espíriro natalino fosse desvirtuado". Vittorio e Vito já estão sendo criados assim. Eu adorei estar com a família, adorei os presentinhos que ganhei e apesar da saudade, eu me senti muito bem. Melhor que no ano passado.

Depois descemos para caminhar um pouquinho na praia. Ñ podíamos demorar porque os menores já estavam morrendo de sono, mas a tranquilidade da praia, o barulho das ondas parece que lavaram nossas almas. Acordamos hoje felizes, embora aquele sentimento de vazio estivesse presente. João ñ sabia pelo que começar a brincar. Maria então estava perdida no meio das opções. João ganhou um avião lindo todo de ferro da vovó; duas blusas lindas da minha irmã e do meu cunhado; um autorama tb lindíssimo da D. Marta e do Seu Alberto, de mim ele ganhou um tênis que ele já vinha há muito tempo namorando. Maria ganhou um vestido lindo e fofo da vovó; dos tios a coleção, incluindo caneta mágica, de livros do Harry Potter (já ñ sei o que fazer com tanta coisa de Harry Potter!); da D. Marta e Alberto dois conjuntos de roupas lindos e de mim a camera digital da Barbie. Provavelmente alguns outros presentes os aguardam em SP da família paterna, mas independente do que seja, ganharão aos poucos.

Falando em lado paterno, peguei uma conversa dos três, João, Maria e Gabi que mexeu comigo. A Gabi estava dizendo "Poxa, pena o vovô ñ tá aqui com a gente né! Sinto saudade do vovô". João e Maria concordando. Até que a Maria falou: "É prima, eu tb queria muito o vovozinho aqui com a gente...Pelo menos vc tem o seu pai por perto". Aquilo me balançou. Quando nós pensamos que está cicatrizado, eis que a ferida se abre de novo.

Mas no geral, faço um balanço muito positivo do meu natal. Ao contrário do ano passado, em que fiquei nos EUA com meus filhos, este ano eu consegui vir pro Brasil, estar com minha mãe, minha irmã, meus sobrinhos, enfim, estar realmente em família. A saudade fica cada vez mais apertada e a emoção é quase impossível de ser controlada nessas datas, mas, por outro lado, aprendemos a valorizar ainda mais esses momentos.

Devemos ficar por aqui até terça, quando devemos ir pro Rio passar o Réveillon. E aí, mais emoção nos aguarda...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Doce vida.

Algumas pessoas me perguntaram o por quê de toda melancolia no posto passado. E eu é que pergunto "Por que?!". Ñ foi à toa que saí do Brasil. Provavelmente meu destino ñ foi dos melhores, concordo. Mas estava cansada. Estava cansada dos que me cercavam, cansada da onde morava, da sociedade paulistana, da futilidade, estava cansada de muita coisa. Queria morar num lugar onde niguém me conhecesse, onde o que eu fizesse ñ seria motivo para julgamentos (embora eu nunca tenha dado a mínima importância antes, porém ainda que ñ ligasse, os olhares eram categóricos...), queria poder fazer coisas que há muito eu ñ fazia.

Pode ficar no ar a pergunta: "Foi uma fuga?!". Talvez, acredito que sim, mas no momento que deixei o Brasil estava numa situação muito complicada, eu precisava sair. Por segurança, morava num condomínio luxuoso. Pra mim, era insuporável. Jovens irresponsáveis desfilando os importados carros do papai; mulheres inutilmente artificiais, sempre preocupadas com o cabelo, roupa, bolsa, rosto, celulite e todas essas bobagens das quais ñ faziam parte do meu foco; crianças extremamentes mimadas, sendo criadas por bondosas babás; casas impecavelmente bonitas, representando o típico sonho americano. Tudo aquilo me cansava, olhava ao redor e ñ via (muito menos vivia) aquela realidade. Aqueles vizinhos cobravam de mim posturas e atitudes que, embora minha família tivesse ótimas condições financeiras, ñ faziam parte de mim pelo fato de ñ ser criada assim.

Meu pai era uma pessoa muito simples, tal qual minha mãe. Carros e conta corrente ñ eram nossa identidade. Fui criada andando descalça (embora minha mãe dissesse para fazer o contrário), correndo, pulando, brincando, caindo, sendo eu. Meu pai era o homem mais feliz do mundo quando todos (todos=família reunida) estavam ao redor da piscina, dançando, ouvindo música, conversando, sendo felizes. Ou, como ele mesmo dizia, quando era noite, nós íamos jantar e estavam nós quatro. Ele olhava e dizia: "É isso que me faz feliz".

O mesmo se repetia com a mamãe. Ela ñ se sentia feliz indo ao cabeleireiro, mas quando era domingo e minha irmã e eu "invadíamos" o quarto de papai e mamãe, nos jogando na cama. Nós percebíamos em seu sorriso que esse era seu momento mais feliz. Ou quando a Dani anunciou para todos que estava grávida de Gabriela. Meu pai ficou com os olhos marejados e minha mãe mal podia conter a felicidade. Seria a primeira neta, a primeira criança depois de tantos anos sem nenhuma para correr pela casa! Meu pai, como bom descendente de italiano, gritava pelo corredor da maternidade "Eu sou vovô! Minha neta nasceu!"! Se ñ fosse as enfermeiras, os seguranças teriam expulsado meu pai dali! E o que dizer quando inesperadamente eu soube que seriam gêmeos?! Melhor ainda foi quando confirmei que haveria ao menos um menino na barriga. O primeiro garoto na família! Antes mesmo do João nascer, o macacão, boné, meia e sapatinho do São Paulo estavam comprados!

Foram pequenas ações como essa que nos deram felicidade. Ñ foi ter uma ferrari, 200 pares de sapato, vestidos caros, casas no exterior, etc. Eu nunca vi ninguém, no leito de morte, dizer que foi feliz porque suas aplicações na bolsa renderam milhões. Ou mesmo dizer que estavam arrependidas por ñ terem feitos ótimos negócios.

É engraçado, ou irônico, dizer que sou mais feliz tendo que acordar mais cedo p/ pegar o ônibus p/ levar as crianças na escola. Sou mais feliz aprendendo a cozinhar para as crianças, tendo que separar a roupa suja da limpa que insistentemente eles deixam espalhadas pela casa. Ñ tenho mais carro, moro um pouco afastada do centro, me viro em três porque ñ tenho mais babás e tento conciliar trabalho com casa, sendo que essa dificilmente está bem organizada. Sou uma outra Paula (ou seria a velha Paula da infância?), que como tantos, tenta ser feliz nesse difícil equilibrio da vida.

E mais: meus amigos são meus amigos porque gostam de mim nesse meu jeito meio louco e volúvel. Ñ por morar onde moro ou ter o que tenho. Alguns aqui nem mesmo acreditam que sou brasileira, mas sou e ñ nego. Ñ é irônico que tenha achado isso no berço do capitalismo?!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O novo milênio...

Hoje recebi uma cópia do vídeo em que mostra o meu pai, em 79 chegando ao aeroporto. Era a volta dos exilados e tinha muita gente naquele aeroposto. Eu, claro, ñ lembro de absolutamente nada, infelizmente.

Eu, como ñ poderia ser diferente, me emocionei com o video. As pessoas voltando p/ o país, meio com uma sensação de alívio; meu pai chegou a pisar o chão do aeroporto, agarrando a bandeira nacional. Foi de um patriotismo que acabou, ñ existe mais. Nada de bom sobrou daquela época. A política virou piada; as ideias foram enterrados com os lutadores e o individualismo cresceu tanto quanto a inflação e a violência. O que ficou daqueles anos?

Meu pai tinha inúmeros amigos. Mas amigos mesmo, quase irmãos. Daquele enorme grupo, dois ou três ficaram, mantiveram contato. Outros esqueceram do que foram, ou quem costumavam ser e se perderam no capitalismo. Os que já eram ricos, ficaram ainda mais ricos. É engraçado como o tempo afasta as pessoas. Chega a ser irônico que com toda a tecnologia, as pessoas ainda estejam distantes. No tempo da máquina de datilografar e das cartas, nós éramos mais próximos.

Sinto falta da época em que todos se reuniam, ouviam Rita Lee, dançavam e se abraçavam sem importar a classe social. Enquanto nós, crianças da época, brincávamos na piscina ou íamos brincar de garrafão na rua, meu pai e seus amigos bebiam, dançavam, conversavam, viviam. Viviam, já em 80, sem medo, sem neuras, sem cobranças, sem preconceitos, sem status, viviam pelo simples prazer de viver. Às vezes me pergunto se a geração do meu pai, mesmo com a ditadura, ñ foi mais feliz que a minha?! E se já acho que a miha poderia ter sido melhor, o que meus filhos dirão da deles?

Penso no que meus filhos perderam. Poder brincar na rua, sentar na porta de casa e conversar, ficar até de madrugada na rua sem se preocupar com a violência, tomar banho de chuva, subir na árvore do vizinho p/ pegar acerolas, enfim, coisas tão simples, mas que ficou para trás. Doce e apertada saudade. Será que meu filho vai aprender a soltar pipa no ventilador do apartamento?

São por esses questinamentos que vejo o quanto a música Homem Primata, feita há anos atrás, é cada vez mais atual.